por Professor Doutor Padre Junior Vasconcelos*
“Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” é o tema da 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE), que será vivida no presente e já desafiador ano de 2021. No lema bíblico, “Cristo é a nossa paz: Do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a), encontramos a motivação desta Campanha: construir a paz desejada por Cristo.
A Igreja Católica, em comunhão com as Igrejas que formam o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), celebra no tempo Quaresmal deste ano (período de preparação para a centralidade da Fé Cristã, o Mistério Pascal de Cristo) a Campanha da Fraternidade, com o desejo ecumênico, ou seja, vivenciar a fé cristã, a fraternidade no diálogo, visando o compromisso de amor, pois “Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido” (Texto Base, p. 8). Ecumenismo significa que vivemos todos na mesma casa, em grego oikia, na mesma casa Cristã, a Igreja de Jesus Cristo.
O sonho ecumênico, que vem desde o papado de Pio XII com o “Movimento Ecumênico” foi amplamente impulsionado por Paulo VI, João XXII e pelo santo João Paulo II e seu sucessor Bento XVI. Esta realidade se torna presente neste ano, sobretudo porque somos inspirados pelo Papa Francisco, o homem do diálogo. É bom lembrar que no Brasil este espírito ecumênico surgiu em 1980, consolidando-se amplamente no ano 2000, na “aurora” do Novo Milênio, com a Campanha da Fraternidade Ecumênica “Dignidade humana e paz – por um novo milênio sem exclusões”. No presente ano, que já nos sinaliza o quanto precisamos nos unir para superar os desafios impostos pela pandemia do novo Coronavirus (COVID-19), somos desafiados à práxis do encontro, do diálogo e amor. Isso significa que devemos sair de nós mesmos para irmos ao encontro do diferente, dos outros irmãos e irmãs, a fim de com eles obtermos forças para construir um mundo melhor, mais saudável, uma casa comum menos ferida por esta pandemia.
Na fonte bíblica, na confissão de fé paulina, Ef 2,14, se nos diz: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Tal Palavra nos inspira a superar os conflitos, violência, racismo, xenofobia e tantas outras práticas de ódio e desamor. Somos convidados ainda a estreitar laços para o diálogo e a construirmos pontes de amor e paz, destruindo os muros de ódio e divisão. A paz cristã tem como base Jesus Cristo, que nos revela o novo shalom, a paz plena baseada no amor sem limites, no amor que se doa a fim de que todos tenham vida em abundância (cf. Jo 10,10b).
Celebrar a Campanha da Fraternidade Ecumênica é uma maneira a mais que a Igreja nos convida a vivenciar o tempo quaresmal. A Quaresma nos leva à Páscoa, certeza da vida sobre a morte. Então, o objetivo central desta CFE é despertar os cristãos a “pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade” (Texto Base p. 10). Palavras como diálogo, paz, casa comum, igualdade, conversão, convívio, testemunho se destacam nos objetivos específicos desta CFE (Texto Base, p. 11).
Ponto alto da CFE é o diálogo, que é capaz de construir alteridade, proporcionar o amadurecimento humano e o estreitar dos laços e afetos, na possibilidade de se destacarem mais nossas semelhanças que nossas diferenças com os nossos irmãos de outras tradições. “Dando continuidade à Campanha da Fraternidade de 2020, quando nos voltamos à importância do cuidado de pessoas, grupos, povos e de todo o planeta, percebemos a ligação entre cuidar e dialogar”. A ausência do diálogo evidencia que algo não vai bem entre nós cristãos. Quando dialogamos e vivenciamos o amor como cristãos, evidenciamos que somos batizados no único Batismo, o batismo de Cristo, no qual a vida trinitária habita em nós e nos leva a possibilidade de vivermos a comunhão, a marca indelével da Comunidade Perfeita, a Trindade.
Desta maneira, a CFE 2021 nos convida à conversão, ao diálogo e ao compromisso de amor. O jejum a que nos convidam a Quaresma e a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano é aquele que agrada a Deus e que nos conduz “à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos” (Texto Base, p. 15). A CFE, portanto, intenciona contribuir para que assumamos “outras posturas em relação a cada pessoa que encontrarmos ao longo do caminho e que, ao longo dos 40 dias da Quaresma, nos perguntemos se nossa prática cristã promove a paz ou potencializa o ódio” (Texto Base, p. 15). Desejo a todos e todas uma verdadeira caminhada de conversão quaresmal e que a CFE deste ano nos aproxime de nossos irmãos cristãos, a fim de construirmos juntos um mundo melhor e mais fraterno.
*Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE. Professor no Instituto de Filosofia e Teologia Dom João (IFTDJ) – PUC Minas e no ISTA – Instituto Santo Tomás de Aquino, em Belo Horizonte. Vigário Episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora da Esperança, na Arquidiocese de Belo Horizonte e Pároco na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, no Bairro Castelo, BH.
Comments