Lc 18, 9 Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10 'Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11 O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12 Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'. 13 O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' 14 Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.'
A parábola do fariseu e do cobrador de impostos retrata duas realidades com as quais Jesus convivia, realidades constatadas pelo evangelista e sua comunidade de fé, bem como também percebidas em nossa realidade atual: trata-se da prepotência-arrogância religiosa versus à verdadeira humildade diante de Deus.
O Evangelho de Lucas é um retrato da situação na qual Jesus se encontrava. Evidente que não se trata de um relato histórico, factual, mas é uma composição parabólica (parábola – comparação), nem sequer de um relato realístico, mas de uma teologia acerca da realidade na qual Jesus experimentou seu messianismo, tentando apresentar a verdadeira religião do amor, a Deus e aos irmãos e irmãs.
Segundo Jesus, dois homens subiram ao Templo para a oração. Um era fariseu, um “separado”, segundo o termo grego, um homem virtuoso evidentemente. Contudo, seu modo de proceder era arrogante e demasiado prepotente. Um cobrador de impostos, um homem vitimado pelo preconceito por sua profissão. Os cobradores de impostos eram vistos com maus olhos devido ao fato de trabalharem em prol dos poderosos, daqueles que manipulavam e governavam, no caso o império Romano. Os cobradores de impostos eram ligados ao governo Palestino a serviço dos Romanos. Ele, contudo se coloca em atitude de humildade na cena descrita por Jesus.
O fariseu e o cobrador entraram no Templo, duas realidades antagônicas se cruzam. O fariseu arrogante, de pé, rezava no seu íntimo. Sua oração era contar vantagens diante de Deus. “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda”. Esta é a oração da arrogância religiosa, pautada não na providência de Deus ou em sua misericórdia, mas na práxis pessoal, humana, de alguém que não reconhece a Deus, como seu verdadeiro Senhor. O cobrador, por sua vez, ficou à distância, com os olhos voltados para o chão, em atitude de humildade e subserviência. Sua prece estava voltada para o Outro que poderia salvá-lo, o Deus de Misericórdia. Não se apegava às suas vantagens próprias, pois não as tinha em abundância, nem estava alicerçado em seu status quo, colocado em prol dos demais, mas se colocava humilde e simples, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”, sua prece era feita batendo o peito, sinônimo de sua simplicidade e abnegação diante de Deus. O cobrador é homem de oração simples e fervorosa, fruto do verdadeiro encontro com Deus, realizado no arrependimento e no amor.
Por fim, Jesus tira uma lição desta parábola exemplar: “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois, quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (v. 14). Trata-se do desenlace da trama relatada pelo mestre Jesus. O desenlace está a favor daquele que aparentemente estava desfavorecido em sua dignidade, o não-religioso, por se cobrador de impostos, pagão e não ligado às tradições judaicas. O cobrador de impostos é exemplo daquilo que todo cristão deve ser diante de Deus: abnegado. Abnegar-se significa tornar-se continuamente aberto à realidade de Deus, como única e maior riqueza e vantagem para o ser humano. Deus é a verdadeira riqueza que o ser humano pode adquirir, uma riqueza incalculável e intransponível. Deus deve ser o norte de nossas preces, mesmo que seja para pedirmos em favor de nós mesmos, em nossa miserabilidade, a fim de que Ele tenha compaixão de nós e nos perdoe, fazendo-nos partícipes de sua justificação, de sua salvação, que todos aguardamos viver pela experiência da fé na ressurreição.
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