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Deus foi glorificado nele

por padre Junior Vasconcelos Amaral,

pároco, doutor em Teologia Bíblica e professor de Sagrada Escritura na PUC Minas

 

Jo 13, 31 Depois que Judas saiu do cenáculo disse Jesus: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33a Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34 Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. 35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.'


A narrativa do capítulo 13 do Quarto Evangelho, o Evangelho segundo João, se concentra em torno do binômio de tensão traição-amor. A traição é fruto da superficial experiência de amar. Trair é negar qualquer possibilidade de oferecer amor em profundidade, fruto é óbvio das relações superficiais e mesquinhas. O amor é, por sua parte, a relação profunda de doar-se e receber o outro e do outro todas as maravilhas próprias da relação.

Judas é protagonista da traição porque não entende a profundidade do amor de Jesus. Judas é aquele que não compreende a dimensão de alteridade de amar. Amar demanda de nós doação e receptividade. Ninguém aprende a amar sem a sensação de ser amado. O amor vai, paulatinamente, se amadurecendo, redimensionando seu caráter agápico, de doação plena, sem medir esforços para ser e se doar, sem esperar em troca retornos, mesmo que estes sejam próprios da forma humana de existir. A sensação de ser amado, o sentimento de receber amor, é profundamente gratificante e fundamental.

A traição de Judas, a negação do amor de Jesus, é condição de possibilidade para a glorificação de Jesus acontecer em plenitude. Era, de fato, notório que alguém, um dia, no seguimento de Jesus, não compreendesse sua atitude de amar e sua doação sem limites na Cruz. Este alguém é Judas, o Iscariotes, o chamado traidor. Ele vendeu por trinta moedas insignificantes o Filho amado de Deus, Jesus de Nazaré. Não sabemos com propriedade quais foram as verdadeiras e reais motivações que o levaram a trair o Senhor. Porém, sabemos que por sua traição tudo se consumou, na glorificação do Filho de Deus. A glorificação de Jesus é sua morte que, para João, está em íntima relação com a ressurreição. Morte e Ressurreição para a teologia do Quarto Evangelho são realidades íntimas e indissociáveis. Portanto, ao ser glorificado pela morte, ou seja, pela ressurreição, Jesus glorifica aquele que o enviou: o Pai.

Finalizando a narrativa, Jesus apresenta um novo e pleno mandamento, o amor. “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. Trata-se do mandamento por excelência, da planificação do ser humano, de seu encontro com a santidade de Deus, que se baseia no amor, no amor de Deus pelo mundo, do amor revelado em Seu único Filho, Jesus Cristo, e derramada em nossos corações pelo Espírito do Ressuscitado, o Vivente eterno.

Ao viver a dimensão e a realidade do amor, o Cristão se aproxima de Cristo, em sua glória e majestade. O Ressuscitado só pode ser experimentado por nós a partir da vivência do amor. Quiçá, possamos ser comparados com Cristo neste mundo, na experiência do amor, que comporta a dimensão do perdão, da caridade e da solidariedade para com os nossos irmãos, principalmente os empobrecidos e humildes..., pois deles é o Reino dos céus (cf. Mt 5).

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